sábado, 11 de julho de 2015

BRICS, БРИКС/Dilma: 7ª Cúpula do Brics foi um marco nas relações do bloco

10 julho 2015,  Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

A presidenta Dilma Rousseff, no âmbito da 7ª Cúpula do Brics, na Rússia, concedeu entrevista exclusiva à emissora de televisão Russia Today. Dilma falou sobre as decisões tomadas na cúpula, a situação econômica da Grécia, as sanções contra a Rússia e o novo banco criado pelas cinco nações do bloco.

Dilma discursa em Cúpula do Brics, realizada em Ufá, na Rússia

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Russia Today: Durante a Cúpula foram tomadas decisões importantes, sobretudo sobre a formação do Banco do Brics. Qual a sua avaliação das reuniões?
 

Dilma Rousseff:
 Eu acredito que esta reunião, a 7ª Cúpula do Brics, sediada na Rússia, teve um resultado excepcional. Foi um marco nas nossas relações. Concretizamos a formação do Banco do Brics, nomeamos toda sua estrutura de governança, inclusive já indicamos o presidente e os vice-presidentes do banco. Além disso, fizemos um acordo contingente de reservas, que é uma espécie de amortecedor para as crises financeiras, pelo fato dos mercados oscilarem muito. E esse acordo de reservas contingentes foi assinado pelos nossos bancos centrais. Então eu acredito que a cúpula foi um grande sucesso, além de ter sido muito bem organizada. 

Qual a sua posição sobre Grécia? O Brics poderá ajudar a Grécia?
Eu espero que a União Europeia resolva o problema da Grécia e acredito que esse processo de negociação esteja em aberto. No que se refere ao Brics, tanto o Banco, quanto o acordo contingente de reservas
não funciona contra nenhum órgão internacional multilateral. O que nos fazemos é dar suporte às nossas economias para enfrentar conjunturas adversas, como a alta volatilidade financeira. Isso é no caso do acordo contingente de reservas. Já no caso do Banco do Brics, é importante saber que há uma carência imensa de fundos para investimento de longo prazo. O que o banco fará é ocupar esse lugar e, com isso, aumentar os recursos disponíveis para investimento. No primeiro momento, para os membros do Brics. Num segundo momento, para os países que vierem porventura a demandar. Então eu acredito que primeiro é preciso olhar se a Grécia resolve o problema dela dentro da União Europeia, antes de se discutir qualquer outra coisa. Nem cabe agora esta discussão.

México, Coreia do Sul, Argentina e até Venezuela já demonstraram interesse em participar do novo banco. Isso foi discutido durante a Cúpula?
Os cinco países integrantes do Banco do Brics (China, Índia, Rússia, África do Sul e Brasil) são a favor de ampliar a participação de outros países no banco, mas isso não foi discutido ainda. Isso só poderá ser discutido, pelas regras do banco, de forma consensual. Acredito que no futuro será. 

Cada país tem seus projetos prioritários para executar no âmbito dos investimentos da nova instituição. A ferrovia que liga Brasil e Chile seria o projeto principal do Brasil?
Esse projeto, a ferrovia bioceânica, que liga o Atlântico ao Pacífico, na verdade está concebido para sair do Brasil e chegar ao Pacífico pelo Peru. Seria um porto no Peru. Está em estudo ainda. Esse seria um dos grandes projetos que nos pretendemos que seja viabilizado com esse fundo, ou até com outros fundos. Os projetos viabilizados terão mais ou menos esse perfil. Serão grandes projetos estruturantes para países e suas regiões. No caso da ferrovia bioceânica, ela beneficia tanto a China, quanto o Brasil, e obviamente o Peru.
 

A Rússia tem sofrido sanções em função da crise na Ucrânia. Brasil sofre algum tipo de pressões por se relacionar com a Rússia?
Não. Nunca recebemos nenhuma pressão. Nós no Brasil somos contra qualquer política baseada em sanções. Temos uma experiência muito negativa na América Latina, que foram as sanções contra Cuba, que agora estão sendo levantadas. Não acreditamos que as sanções sejam solução em qualquer hipótese. Pelo contrário, as sanções, geralmente, ao invés de punir os governos, punem a população. E isso é inconcebível. Então temos um claro posicionamento em todos fóruns internacionais contra esse tipo de sanção.
 

A Rússia está ciente desse posicionamento? Essa posição foi anunciada na Cúpula do Brics?
Dilma: Sim, não só no Brics, como falamos isso na ONU. Não somos a favor de sanção. Não só somos contra, como não praticamos. Tanto é assim, que vou citar um caso local nosso. Cuba estava sob sanção há mais de 50 anos. Nós nunca respeitamos esse tipo de sanção. Investimos em Cuba. Fizemos e financiamos o grande porto de Mariel em Cuba. É um porto em águas profundas. O que quero dizer é que não somos contra sanção só verbalmente. Nos tomamos atitudes que demostram o que achamos.
 

A Rússia e Brasil tem vivido dificuldades econômicas. É uma situação bem diferente do momento no qual o Brics foi criado. A situação em seu país pode prejudicar o aporte ao fundo do bloco?
Não. Porque a situação do Brasil, e acredito que da Rússia também, e mesmo a da China, que tem a sua menor taxa de crescimento nos últimos 25 anos, é passageira. Estamos vivendo agora os efeitos da crise internacional. Conseguimos passar o pior momento. Pelo menos o Brasil conseguiu. Estamos há seis anos impedindo que a crise afete o emprego e a renda do povo brasileiro. Mas tem um limite para a gente suportar isso. Todavia, a economia brasileira possui fundamentos sólidos. Nos recuperaremos rápido. Por isso eu acredito que os nossos aportes ao Brics não serão afetados.
 

O Brasil sediou a Copa do Mundo no ano passado e receberá as Olimpíadas no ano que vem. As obras de infraestrutura para os eventos foram afetadas pela crise?
Não. Inclusive, todas estão completamente em dia. Não há menor hipótese de serem afetadas por isso. O Brasil tem uma das menores dívidas, se comparado com qualquer país. Qualquer país da Europa tem uma dívida em relação ao PIB maior que a do Brasil. A do Brasil está na faixa dos 60 por cento. As dívidas dos países europeus em relação o PIB estão na faixa de 100 por cento. O Brasil tem uma taxa de inflação alta para os padrões europeus, mas ela é alta momentaneamente. Da mesma forma, nos tomamos agora uma medida de proteção ao emprego, parecida com aquela tomada pela Alemanha, durante o período de crise. Acreditamos que será bastante eficaz no sentido de segurar a taxa de desemprego no Brasil. Então eu diria o seguinte, queremos sair rápido da crise. E vamos conseguir.

As últimas eleições presidenciais foram muito difíceis e os índices de popularidade da presidência também estão baixas. Isso torna a governabilidade mais difícil?
Dilma Rousseff vai concluir essa legislatura. Em qualquer país há quedas de popularidade. A minha decorre de uma situação econômica bastante adversa. Eu tenho certeza de que isso vai melhorar. O que importa é, sem sombra de dúvida, que nos estamos trabalhando duro para tirar o Brasil dessa situação de crise. E isso é o nosso foco principal.
 

Tentativas de golpes brancos tem sido articulados na América Latina, com participação da direita e com apoio dos Estados Unidos. O mesmo está ocorrendo no Brasil?
Não, não acho. Acho esta uma teoria conspiratória. Em nenhum país é preciso influência de fora para que algum segmento seja um tanto quanto golpista. Eles são golpistas por si mesmos. Não tem país nenhum no mundo interferindo na situação interna do Brasil.
 

A senhora, além de ser uma espécie de ídolo pelo seu passado, conseguiu colocar o Brasil entre as 7 maiores economias do mundo. O que resta fazer?
Muito. Em nenhum país você consegue cumprir tudo aquilo que você tem de fazer. Todo dia você tem de lutar para fazer mais. Agora, nesse momento adverso, temos de trabalhar ainda mais para conseguir que o país saia da crise, para que tenhamos condições de garantir tudo que já conseguimos. Porque tiramos 50 milhões de brasileiros da pobreza e os elevamos para a classe média. Somos a sétima economia do mundo. Temos hoje US$ 378 bilhões de reservas. Somos um país sólido do ponto de vista macroeconômico. Não temos bolha. O nosso sistema bancário é absolutamente robusto. Não há motivos para o Brasil não voltar a crescer. (Fonte: Agência Sputnik)



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BRICS, БРИКС/Dilma defende na Rússia mais participação do Brics no FMI e na ONU
9 julho 2015,  Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)

Em discurso na sessão plenária da 7.ª Cúpula do BRICS, realizada em Ufá, na Rússia, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, destacou a importância da atuação do Brics para realavancar o desenvolvimento global e pediu mais participação dos países do bloco no Conselho de Segurança da ONU e junto ao FMI – Fundo Monetário Internacional.

Dilma ressaltou a influência positiva do grupo Brics na consolidação de uma ordem internacional mais equilibrada e eficaz, e falou sobre a necessidade de encontrar novos caminhos para superar a crise financeira que ainda afeta a recuperação dos países desenvolvidos e dos que estavam em crescimento, mesmo com o fim do chamado superciclo das commodities.

“A persistência da crise passou exigir das novas políticas econômicas novas respostas, visando a retomar o crescimento proteger e aprofundar conquistas sociais”, disse Dilma. “Sabemos que chegamos ao fim do ciclo das commodities. Sabemos que ainda remanesce muita volatilidade no setor financeiro. Os emergentes, principalmente o Brics, continuarão a ser a força motriz do desenvolvimento global. Seu peso deve se refletir nas instituições de governança internacional, o que reforça a necessidade de reformulação do Fundo Monetário decidida em 2010."

A presidenta ressaltou que esta vai ser uma das prioridades na reunião do G-20, que em 2016 será realizada na China.

Ainda em seu pronunciamento, a presidenta chamou a atenção para os muitos desafios e ameaças no cenário internacional, destacando as situações de guerra e conflitos, que para ela já não deveriam ter lugar no século 21.
 

Dilma afirmou que o Brasil está aberto para acolher todos aqueles que procuram uma nova pátria. Ela destacou sua preocupação com os conflitos no Oriente Médio e no Norte da África, bem como com os confrontos na Síria, no Iraque, no Iêmen e na Líbia, citando ainda a instabilidade na questão Israel-Palestina. A presidenta condenou as intervenções militares e bloqueios como forma de resolver a questão da segurança. “Sabemos que intervenções militares e bloqueios não foram e não serão capazes de resolver os problemas de segurança nessas regiões e nas outras regiões conflagradas. Pelo contrário, tendem a incentivar sectarismos de diferentes matizes, fragilizar as instituições nacionais e alimentar a proliferação de armas nas mãos de atores não estatais.”

Dilma ressaltou que o Brasil é contra qualquer medida que viole os direitos humanos nas áreas de conflito, em especial a perseguição a minorias étnicas e religiosas, as execuções sumárias, a violência sexual, o recrutamento de crianças e a destruição do patrimônio cultural, além das ações terroristas, que segundo ela, devem ser combatidas. E que o país defende a reformulação no Conselho de Segurança da ONU. “Reitero o repúdio inequívoco do Governo e do povo brasileiro ao terrorismo, seja de que forma possa se revestir, onde quer que ocorra, quaisquer que sejam seus atores e motivações. Esse mal deve ser combatido no marco do direito internacional, deve ser reprimido. Precisamos também atuar simultaneamente, preventivamente em suas causas estruturais. Nesta Cúpula reiteramos o compromisso do Brics com o multilateralismo abrangente, transparente e representativo, que reflita as mudanças nas realidades de poder. O Brasil acredita que um Conselho de Segurança da ONU reformado e ampliado será mais legítimo e eficaz no exercício de garantir a paz internacional e a segurança coletiva.”

A presidenta ainda afirmou que o Brasil está aberto para discutir no âmbito do Brics sobre outros temas estratégicos do século 21, como governança da internet, crimes cibernéticos, migrações e o problema mundial das drogas.
 

Dilma destacou também a realização da COP 21 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontecerá no fim do ano em Paris. Lá, o Governo brasileiro defenderá um acordo com foco nas fontes alternativas e renováveis de energia. “Nós defendemos um acordo equilibrado e ambicioso, que contemple as fontes alternativas e as fontes renováveis de energia, mas que garanta também o princípio da Conferência Rio+20, que diz ser possível crescer, incluir, conservar e proteger.”

Por fim, a presidenta Dilma destacou a nova agenda do desenvolvimento pós-2015, que realça a cooperação internacional em desenvolvimento sustentável. “Está em negociação na ONU uma nova agenda do desenvolvimento pós-2015, que dá início a um novo ciclo de cooperação internacional voltada para o desenvolvimento sustentável. As iniciativas lançadas pelo Brics terão papel decisivo e muito contribuirão de modo construtivo para esse novo momento das relações internacionais. Estou certa de que o fortalecimento do Brics equivale a fortalecer a economia internacional e a paz entre os povos.” (Fonte: Agência Sputnik)
 


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